Lá Vem o Império Serrano (Hélio Ricardo Rainho).
Garboso, vultoso, majestoso, triunfal. Descendo a serra, adornando o asfalto com seu verde esmeraldino da esperança, lá vem ele, o menino gigante do samba, enaltecendo sua raiz, seu bamba mais prestigiado, sua história, no próximo carnaval.
Serrinha, Congonha, Tamarineira..."lá vem" o Império Serrano, o Reizinho de Madureira!
Essa escola gigante com apelido de menino - o "Menino de 47", do ano em que despontou para a grandeza dos desfiles - é um celeiro exemplar. E o exemplo se reafirma e consolida no enredo escolhido para 2016: "Silas canta Serrinha", segundo carnaval de Severo Luzardo na luta para resgatar o Império Serrano a seu lugar devido, ascendendo ao Grupo Especial.
Enquanto muitas escolas só têm janela, o Império Serrano tem espelho. Se enxerga, se valoriza, se dignifica. Está menos interessado em "aparecer" e mais interessado em "ser o que é". Graças a Deus! Espelho que se reflete para transmitir seu saber ancestral, seu relicário de lições, preceitos e fundamentos. O Império Serrano é um Gigante que não cede com facilidade à marola dos tempos modernos. Sendo grande, tem consigo mesmo e com seus correligionários esse sagrado compromisso de preservar a riqueza de sua história. Comovente e encantadora essa sua jornada!
Para isso, a escola apanhou muito. Apanhou lá atrás, quando quebrou a hegemonia das grandes e tornou-se, num relance, grande também. Apanhou quando seu poeta-símbolo, Silas de Oliveira, foi chamado para depor sobre um certo samba que enaltecia a liberdade em dias de ditadura política. Apanhou, também, quando essa história de patrocínio começou no carnaval. Quando abriu seu livro pra contar a história de um empresário, no longínquo 1997: ali o Império entendeu que distanciar-se de sua verve histórica não combina com seu pavilhão. Mal poderia imaginar que, depois daquele incidente, o erro se tornaria regra, e ele seria o último bastião do samba a lutar e resistir contra a fúria invasiva dos temas patrocinados, personalidades e elementos estranhos ao samba. Hoje, penalizados são os que não se rendem à mercadologia. Mas, já que "imperiano de fé não cansa", a briga tá comprada, e o Império não desiste.
O Império é assim. Tem suas peculiaridades. É escola maiúscula, imperativo do masculino..."O" Império é homem com H! "Um filho do verde esperança não foge à luta / Vem lutar!" - proclama em um de seus versos poéticos e autoexplicativos. E mesmo que nossos filhos, e os filhos de nossos filhos um dia comecem a perder a referência do que leva uma escola de samba a desfilar, do que leva um povo a cantar com lágrimas um samba-enredo; e mesmo que um dia se perca a noção de que o espetáculo das escolas de samba pode crescer sem perder suas raízes fundamentais...bastará que alguém procure, onde quer que esteja desfilando, o Império Serrano!
Com sua luta, sua coragem, seu encanto, seu exemplo, sua paixão. Então todo aquele que quiser conhecer um pouco mais do samba original e verdadeiro, poderá pisar pés descalços ou sapatos brancos - no jongo da Serrinha ou na quadra do Império - para entender que um passado morre para quem não o preserva, mas vive e sobrevive lindo e límpido para quem nele projeta seu futuro.
Obrigado, Império Serrano, por esse enredo que, antes de contar a sua história, mostra a todos nós, aprendizes das escolas de samba, que nem tudo se perdeu! Não serão os ricos, nem abastados, nem patrocinados os professores da avenida em 2016! Virá do Império, da Serrinha, de Madureira, a maior lição de samba que a avenida já espera.
Bendita coroa imperial! E é por isso que se diz: "Império Serrano: Uma Escola de Samba". Quem não tem essa patente, que corra atrás!
* Reproduzido do Jornal do Sambista, um periódico impresso mensal distribuído nas quadras e eventos de samba. Helio Ricardo Rainho é um de seus colunistas convidados.
FONTE: Blog Hélio Ricardo Rainho - site SRZD Carnaval.