sábado, 25 de julho de 2009

Império Serrano, Carmen Miranda e Elis Regina, arte pura!

As outras Escolas de Samba podem chiar e morrer de inveja, pois quando se fala em Samba de Enredo, se traduz Império Serrano. Não é coisa de torcedor, é simplesmente a realidade histórica do Carnaval Carioca.
Um bom exemplo é o nosso samba de 1972, que nem está entre os nossos melhores de todos os tempos.“Alô, Alô, Taí Carmem Miranda”, samba que levou o Império Serrano ao seu oitavo título do desfile das grandes Escolas de Samba do Rio de Janeiro, uma poesia melódica na maravilhosa voz de Elis Regina.
Curta esta obra de arte musical.

sábado, 18 de julho de 2009

Mano Décio da Viola - Centenário de nascimento.



Um dos personagens mais importantes dos primeiros anos do Império Serrano e das próprias escolas de samba, compositor que formatou o samba enredo e criou clássicos como "Heróis da liberdade" e "Exaltação à Tiradentes", Mano Décio da Viola completaria um século de vida na terça passada. Parceiro e, por vezes, adversário de Silas de Oliveira - considerado o grande mestre do estilo e de quem, de certa forma e injustamente, viveu à sombra - ele terá obra e vida lembradas na tradicional feijoada da Império Serrano este sábado, em Madureira; em um debate seguido de um show de Jorginho do Império, seu filho, na segunda, dia 20, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI); e em um CD, gravado pelo próprio Jorginho, a ser lançado ainda este ano.



- O Mano Décio foi quem sistematizou a narrativa do samba enredo, que até então, nos anos 1940, era disperso, não narrativo. Os sambas eram evocativos de temas como o amor, a musa. E ele foi o pioneiro com o "Exaltação a Tiradentes", em 1949 - conta o pesquisador Ricardo Cravo Albin, que conheceu o sambista quando presidia o Museu da Imagem e do Som. - Ele foi fundamental no esboço que fizemos, em 1967, de um futuro Museu do Carnaval. Tinha um lado voltado para a pesquisa, para importância de se preservar a história.
Para ele, que integrará, juntamente com Sergio Cabral, Haroldo Costa e Rachel Valença a mesa do dia 20, na ABI, a obra de Mano Décio merecia um destaque maior.
- Numa reunião para o evento, o (jornalista) Maurício Azedo cantou alguns sambas dele que eu mesmo não lembrava. Coisas que deveria estar em qualquer antologia mas foram esquecidas. Ele e Silas, juntos ou separados,contaram boa parte da história do Brasil.



Décio Antonio Carvalho nasceu em Santo Amaro da Purificacão, mesma cidade de Caetano Veloso, mas com meses foi para a mineira Juiz de Fora e, com um ano, já estava no Rio de Janeiro, no Morro de Santo Antônio, uma escala para o Morro de Mangueira, onde chegaria em 1915. Com 14 anos foi morar em Madureira, onde teve contato com blocos como o Vai Como Pode, a futura Portela, foi inevitável.
Mas pouco depois, fugindo da atenção excessiva do pai, foi morar na casa de parentes, novamente em Mangueira. Quando o cerco paterno apertou, fugiu e passou a viver de bicos, vendendo jornais e cocada no Largo da Carioca, e dormindo na rua. Depois conseguiu abrigo na casa de Manga, fundador do tradicional Recreio de Ramos e irmão de Armando Marçal, um dos professores da primeira escola de samba, a Estácio de Sá.
Sua primeira música, gravada por Almirante nos anos 1930, foi "Vem meu amor", feita sobre a melodia de uma valsa de Richard Strauss. Vendeu muito samba para os cantores da época, como era de praxe, até que voltou para Madureira e conheceu a escola Prazer da Serrinha, embrião da Império Serrano. Compositor de mão cheia, logo ganhou respeito na escola e o apelido. Mano era a alcunha dos mestres das escolas como Elói, da Serrinha, e Rubens e Edgar, da Estácio. O "da Viola" se deveu ao fato de ele tocar bandola na época. Nesta época, em 1955, após uma divergência na Portela, Antônio Caetano, um dos baluartes da azul-e-branco foi à Serrinha, onde tinha parentes, e sugeriu um enredo para o carnaval. Era "Conferência de São Francisco". Mano Décio topou fazer um samba de acordo com o enredo e procurou Silas. No dia do desfile, Alfredo, "dono" do Prazer da Serrinha, disse que a escola sairia com outro samba. A letra que cantava "Estabeleceu a paz universal/ Depois da guerra mundial" não saiu, mas foi o primeiro samba a narrar uma história.
Sua primeira música, gravada por Almirante nos anos 1930, foi "Vem meu amor", feita sobre a melodia de uma valsa de Richard Strauss. Vendeu muito samba para os cantores da época, como era de praxe, até que voltou para Madureira e conheceu a escola Prazer da Serrinha, embrião da Império Serrano. Compositor de mão cheia, logo ganhou respeito na escola e o apelido. Mano era a alcunha dos mestres das escolas como Elói, da Serrinha, e Rubens e Edgar, da Estácio. O "da Viola" se deveu ao fato de ele tocar bandola na época. Nesta época, em 1955, após uma divergência na Portela, Antônio Caetano, um dos baluartes da azul-e-branco foi à Serrinha, onde tinha parentes, e sugeriu um enredo para o carnaval. Era "Conferência de São Francisco". Mano Décio topou fazer um samba de acordo com o enredo e procurou Silas. No dia do desfile, Alfredo, "dono" do Prazer da Serrinha, disse que a escola sairia com outro samba. A letra que cantava "Estabeleceu a paz universal/ Depois da guerra mundial" não saiu, mas foi o primeiro samba a narrar uma história.
- Convivi com o Mano Décio quando cheguei no Império, na década de 60. Ele, Silas e o Jorginho Peçanha, que hoje é muito pouco lembrado, eram as pessoas mais importantes da escola. Silas era imperiano até debaixo d'água, enquanto o Mano Décio era um andarilho, um cidadão do mundo. Por isso, quando brigou no Império foi para a Portela. Quando voltou, procurou o Silas para fazer o que seria o último samba dos dois na escola - conta Rachel Valença. - Mano Décio era doce. Silas ficou como uma unanimidade, mas ele tem sambas maravilhosos feitos com outros parceiros como "Rio dos vice-reis".



Sérgio Cabral conta que o apelido que deu para Paulinho da Viola foi inspirado em Mano Décio.
- Eu tinha fascínio por ele e por aquele apelido. Ele fazia uns almoços ótimos, frequentados por cantores como o Roberto Silva e o Rizadinha, e personagens do Império como o mestre Fuleiro e o Sebastião Molequinho. Ele gravou tarde, mas bastante, quatro discos. Era forte na melodia, mas de vez em quando cometia imagens maravilhosas como: "A minha cruz é do tamanho do abandono que ser você deu".
Haroldo Costa, que dirigiu um show do sambista na Sala Funarte, lembra sua consciência política.
- Ele tinha esse discernimento. É bom lembrar sempre que o Império desfilou com "Heróis da liberdade" dois meses depois de decretado o AI-5.
(Fonte: João Pimentel - Jornal "O Globo")

quinta-feira, 16 de julho de 2009

CARNAVAL 2010 - SINOPSE DO ENREDO.

ENREDO: "JOÃO DAS RUAS DO RIO"



João das ruas do Rio.

Eu amo a rua. Este sentimento de natureza toda íntima não seria revelado por mim, se não julgasse que este amor absoluto e exagerado é partilhado por todos nós.

A rua, espaço por onde se anda e passeia. Ora, a rua é mais que isso, é um fator de vida das cidades. A rua tem alma!

Não há nada mais enternecedor que o princípio de uma rua.

No início capim, um braço a ligar duas artérias. Um dia cercam a sua beira, um lote de terreno, surgem os alicerces de uma casa. Depois outra e outra. Três ou quatro habitantes proclamam sua salubridade ou sossego.

O importante é que a rua é a causa fundamental da diversidade de tipos humanos. A rua é a civilização da estrada. Onde morre o grande caminho, começa a rua, por isso ela está para a grande cidade como a estrada está para o mundo.

A rua da Misericórdia foi a primeira rua do Rio. Dela partimos todos nós, nela passaram vice-reis malandros, os gananciosos, os escravos nus, os senhores em redes, os índios batidos, negros presos a ferros.

O primeiro balbucio da cidade foi um grito de misericórdia, um ai! Dela brotou a cidade, no antigo largo do Paço. Ela continuou pelos séculos...
Cada rua tem um estoque especial de expressões, ideias e gostos. As conversas variam, o amor varia, até o namoro é absolutamente diverso. Em Botafogo, à sombra das árvores do parque ou no grande portão, Julieta espera Romeu, elegante e solitária. Em Haddock Lobo, Julieta garruleia em bando pela calçada, e nas casas humildes da Cidade Nova Julieta, que trabalhou todo o dia, pensando nessa hora fugaz, pende à janela seu busto formoso.


O que se vê pelas ruas do Rio do João

Do cais, cortado de lanchas, de velas brancas, o desenho dos navios, das fortalezas. À beira desse cais, saveiros enormes esperavam a mercadoria, e em cima, formando um círculo ininterrupto, homens de braços nus saíam a correr dentro da casa, atiravam o saco no saveiro, davam a volta na disparada, tornavam a sair a galope com outro saco, sem cessar, contínuos como uma correia de uma grande máquina.

Eram sessenta, oitenta, cem, talvez duzentos, não os podia contar.

Pelos boulevares que vão dar no cais, a vida da cidade vibrava num rumor de apoteose, naquele trecho do mercado. Os vendedores ambulantes entram ali como por um terreno novo a conquistar.

O ratoeiro compra ratos. É um negociante, o entreposto entre as ratoeiras da cidade e a Diretoria de Saúde.Vai até o subúrbio tocando uma corneta(1). O vendedor de doces arria a caixa e entrega o braço a um moleque. Aquele pequeno é um marcador, faz tatuagens com três agulhas e um pote de tinta. Passa o vendedor de orações, colecionei essas súplicas bizarras. Há orações para santos que nem o papa conhece: S. Gurmim, boa para dor nos calos, e São Puiúna, infalível nas nevralgias. E até mesmo oração para o mar sagrado:

Mar sagrado, eu te venho salvar(2), a tua água te venho pedir para fortuna por Deus para minha casa levar; para que me dê ouro para guardar e prata para gastar, cobre para dar aos pobres.

Na esquina do teatro S. Pedro Arcanjo, um italiano vende livros e jornais. A História da princesa Magalona, Carlos Magno e Testamento dos bichos são os mais vendidos.

Não há cidade no mundo onde haja mais gente célebre que a cidade de S. Sebastião. Vamos ver os pintores, não os Vitor Meirelles(3) e Castagnettos(4) , mas os pintores de rua, heróis da tabuleta(5), artistas da arte prática. Vamos a pequenas amostras - Os macacos trepados em pipas de parati(6), mulheres com molhos de trigo nas mãos, apainelando(7) padarias, paisagens que se repetem com a visão de quem pinta: há o Pão de Açúcar redondo como uma bola, no Estácio, em feitio de valise, no Andaraí, o mesmo Pão comprido e fino em São Cristóvão. Paisagens de batalhas, pôr do sol e mares revoltos. Paisagens de botequins - tabuletas. Foi um poeta que considerou as tabuletas os brasões da rua.

A origem dos títulos é sempre curiosa. Na rua Senhor dos Passos, "Depósito de aves de penas" e na rua Sete "grande sortimento de frutas verdes e secas". Na rua da Constituição, uma casa de bilhetes intitulada "Casa Idealista", porque quem compra bilhetes vive no mundo da lua, e há uma casa de coroas, "O Lírio Impermeável" e outra, "Vulcão das 49 Flores".

Apesar dos gramofones e da intensa proliferação dos pianos nos hotéis, nos botequins, nas lojas de calçados, os músicos ambulantes foram aparecendo novamente nos cafés, tascas, baiúcas, e de novo pelas ruas os realejos, os violinos, as gaitas recomeçaram seu triunfo e lobriguei outro dia ainda um bicho lendário por mim julgado tão desaparecido quanto o megatério(8): o homem dos sete instrumentos.

Esta cidade é essencialmente musical; era impossível passar sem os músicos ambulantes. E dança-se muito também.

Na rua Frei Caneca, na de Santana, em São Clemente e S. Cristóvão tem reisados, contei numa noite mais de 40. Um dos grupos carnavalescos chama-se Rei de Ouros.

Tu tu tu, quem bate à porta
Menina, vai ver quem é
É o triunfo Rei de Ouros
Com sua pastora ao pé

Em plena rua do Ouvidor, não se podia andar. Era provável que do largo de São Francisco até a rua Direita dançassem vinte cordões carnavalescos, rufassem 200 tambores, zabumbassem 100 zabumbas, gritassem 50 mil pessoas. Era a loucura, o pandemônio do barulho e da sandice. Os cordões são os núcleos irredutíveis da folia carioca, brotam com um fulgor mais vivo e são antes de tudo bem do povo, bem da terra, bem da alma encantadora e bárbara do Rio.


Hoje ainda nas ruas do Rio do João

O tempo passou, surgiram novas ruas cheias de arranha-céus, novos bairros, novos transportes, mas a rua ferve de gente e... de ambulantes.

São pipoqueiros, tapioqueiros, vendedores de acarajé, milho verde, olha a pamonha! O vassoureiro equilibra todo tipo de vassouras e espanadores, pastéis, churros, empadas, a caminhonete vende cachorro-quente com as coberturas mais inusitadas de petit-pois e maionese, panos de chão clareados, burro-sem-rabo com pilhas de sacos de papel e jornal, e latinha de cerveja amassada, nas esquinas flores e plantas para todos os gostos, óculos de grau se misturam a colares de retalhos, bijuterias e relógios - só fica sem saber das horas quem quiser! Carregadores para celulares, protetores para o sol, balas de todo tipo e as frutas da estação, em oferta especial.

Os flanelinhas guardam as vagas, o garoto insiste em lavar os vidros, um cantor vende seus próprios CDs, e nesse circo armado nas ruas, os malabaristas fazem suas demonstrações de equilíbrio e agilidade, entre um sinal e outro.

Amo as ruas do Rio, tal como João do Rio, do Rio de Janeiro, a casa de todos nós!!!!

Rosa Magalhães
Junho 2009


(1) Por ocasião da campanha de saneamento do Rio de Janeiro, no início do século XX, a Diretoria de Saúde Pública, preocupada em exterminar os ratos, transmissores da peste bubônica, remunerava cada rato morto que lhe fosse apresentado. Surgiu daí a figura do comprador de ratos, que percorria a cidade com uma corneta para chamar a atenção de quem os tivesse para vender.
(2) Aqui no sentido de dar salvas, saudar.
(3) Vitor Meirelles foi um grande pintor brasileiro (1832-1903), autor do quadro Primeira Missa no Brasil.
(4) Giovanni Castagnetto (1862-1900), pintor italiano radicado no Brasil, destacou-se por pintar paisagens marinhas.
(5) Letreiro, anúncio.
(6) Sinônimo de cachaça.
(7) Enfeitando os painéis.
(8) Animal pré-histórico, contemporâneo dos dinossauros.


Bibliografia consultada:

João do Rio. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor, 1910.
Magalhães Júnior, Raymundo. A vida vertiginosa de João do Rio. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
João do Rio. Os melhores contos de João do Rio. Seleção de Helena Parente Cunha. S. Paulo: Global, 1990.

sábado, 11 de julho de 2009

Relíquia Imperiana garimpada em sebo.



Amigos imperianos, hoje ganhei o meu dia. Encontrei uma raridade imperiana garimpando um sebo de discos antigos. O LP "Samba, oração do morro, com a Escola de Samba Império Serrano" foi produzido pela antiga gravadora Copacabana na década de 60.



Vejam que capa maravilhosa, com a porta-bandeira segurando nosso estandarte do Carnaval de 1961.



A contra-capa tem um belo texto de Sérgio Cabral falando sobre a Império Serrano.