sábado, 18 de julho de 2009

Mano Décio da Viola - Centenário de nascimento.



Um dos personagens mais importantes dos primeiros anos do Império Serrano e das próprias escolas de samba, compositor que formatou o samba enredo e criou clássicos como "Heróis da liberdade" e "Exaltação à Tiradentes", Mano Décio da Viola completaria um século de vida na terça passada. Parceiro e, por vezes, adversário de Silas de Oliveira - considerado o grande mestre do estilo e de quem, de certa forma e injustamente, viveu à sombra - ele terá obra e vida lembradas na tradicional feijoada da Império Serrano este sábado, em Madureira; em um debate seguido de um show de Jorginho do Império, seu filho, na segunda, dia 20, na Associação Brasileira de Imprensa (ABI); e em um CD, gravado pelo próprio Jorginho, a ser lançado ainda este ano.



- O Mano Décio foi quem sistematizou a narrativa do samba enredo, que até então, nos anos 1940, era disperso, não narrativo. Os sambas eram evocativos de temas como o amor, a musa. E ele foi o pioneiro com o "Exaltação a Tiradentes", em 1949 - conta o pesquisador Ricardo Cravo Albin, que conheceu o sambista quando presidia o Museu da Imagem e do Som. - Ele foi fundamental no esboço que fizemos, em 1967, de um futuro Museu do Carnaval. Tinha um lado voltado para a pesquisa, para importância de se preservar a história.
Para ele, que integrará, juntamente com Sergio Cabral, Haroldo Costa e Rachel Valença a mesa do dia 20, na ABI, a obra de Mano Décio merecia um destaque maior.
- Numa reunião para o evento, o (jornalista) Maurício Azedo cantou alguns sambas dele que eu mesmo não lembrava. Coisas que deveria estar em qualquer antologia mas foram esquecidas. Ele e Silas, juntos ou separados,contaram boa parte da história do Brasil.



Décio Antonio Carvalho nasceu em Santo Amaro da Purificacão, mesma cidade de Caetano Veloso, mas com meses foi para a mineira Juiz de Fora e, com um ano, já estava no Rio de Janeiro, no Morro de Santo Antônio, uma escala para o Morro de Mangueira, onde chegaria em 1915. Com 14 anos foi morar em Madureira, onde teve contato com blocos como o Vai Como Pode, a futura Portela, foi inevitável.
Mas pouco depois, fugindo da atenção excessiva do pai, foi morar na casa de parentes, novamente em Mangueira. Quando o cerco paterno apertou, fugiu e passou a viver de bicos, vendendo jornais e cocada no Largo da Carioca, e dormindo na rua. Depois conseguiu abrigo na casa de Manga, fundador do tradicional Recreio de Ramos e irmão de Armando Marçal, um dos professores da primeira escola de samba, a Estácio de Sá.
Sua primeira música, gravada por Almirante nos anos 1930, foi "Vem meu amor", feita sobre a melodia de uma valsa de Richard Strauss. Vendeu muito samba para os cantores da época, como era de praxe, até que voltou para Madureira e conheceu a escola Prazer da Serrinha, embrião da Império Serrano. Compositor de mão cheia, logo ganhou respeito na escola e o apelido. Mano era a alcunha dos mestres das escolas como Elói, da Serrinha, e Rubens e Edgar, da Estácio. O "da Viola" se deveu ao fato de ele tocar bandola na época. Nesta época, em 1955, após uma divergência na Portela, Antônio Caetano, um dos baluartes da azul-e-branco foi à Serrinha, onde tinha parentes, e sugeriu um enredo para o carnaval. Era "Conferência de São Francisco". Mano Décio topou fazer um samba de acordo com o enredo e procurou Silas. No dia do desfile, Alfredo, "dono" do Prazer da Serrinha, disse que a escola sairia com outro samba. A letra que cantava "Estabeleceu a paz universal/ Depois da guerra mundial" não saiu, mas foi o primeiro samba a narrar uma história.
Sua primeira música, gravada por Almirante nos anos 1930, foi "Vem meu amor", feita sobre a melodia de uma valsa de Richard Strauss. Vendeu muito samba para os cantores da época, como era de praxe, até que voltou para Madureira e conheceu a escola Prazer da Serrinha, embrião da Império Serrano. Compositor de mão cheia, logo ganhou respeito na escola e o apelido. Mano era a alcunha dos mestres das escolas como Elói, da Serrinha, e Rubens e Edgar, da Estácio. O "da Viola" se deveu ao fato de ele tocar bandola na época. Nesta época, em 1955, após uma divergência na Portela, Antônio Caetano, um dos baluartes da azul-e-branco foi à Serrinha, onde tinha parentes, e sugeriu um enredo para o carnaval. Era "Conferência de São Francisco". Mano Décio topou fazer um samba de acordo com o enredo e procurou Silas. No dia do desfile, Alfredo, "dono" do Prazer da Serrinha, disse que a escola sairia com outro samba. A letra que cantava "Estabeleceu a paz universal/ Depois da guerra mundial" não saiu, mas foi o primeiro samba a narrar uma história.
- Convivi com o Mano Décio quando cheguei no Império, na década de 60. Ele, Silas e o Jorginho Peçanha, que hoje é muito pouco lembrado, eram as pessoas mais importantes da escola. Silas era imperiano até debaixo d'água, enquanto o Mano Décio era um andarilho, um cidadão do mundo. Por isso, quando brigou no Império foi para a Portela. Quando voltou, procurou o Silas para fazer o que seria o último samba dos dois na escola - conta Rachel Valença. - Mano Décio era doce. Silas ficou como uma unanimidade, mas ele tem sambas maravilhosos feitos com outros parceiros como "Rio dos vice-reis".



Sérgio Cabral conta que o apelido que deu para Paulinho da Viola foi inspirado em Mano Décio.
- Eu tinha fascínio por ele e por aquele apelido. Ele fazia uns almoços ótimos, frequentados por cantores como o Roberto Silva e o Rizadinha, e personagens do Império como o mestre Fuleiro e o Sebastião Molequinho. Ele gravou tarde, mas bastante, quatro discos. Era forte na melodia, mas de vez em quando cometia imagens maravilhosas como: "A minha cruz é do tamanho do abandono que ser você deu".
Haroldo Costa, que dirigiu um show do sambista na Sala Funarte, lembra sua consciência política.
- Ele tinha esse discernimento. É bom lembrar sempre que o Império desfilou com "Heróis da liberdade" dois meses depois de decretado o AI-5.
(Fonte: João Pimentel - Jornal "O Globo")

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